sábado, 22 de fevereiro de 2014

BRANDURA E VIOLÊNCIA





 Estacionei o carro, desci e ia entrando no supermercado.
            Pequeno alvoroço. Dois homens saiam trocando frases duras e em voz alta.
            Percebia-se que estavam sob intensa emoção e despidos da racionalidade.
            Tudo indicava que haveria desforço físico.
            Felizmente, aquele que ainda estava com um pouco de bom senso foi andando à frente e o episódio não teve mais graves consequências, pelo menos no momento.
            Ao passar pelas pessoas observava as fisionomias de espanto... de medo... e outros desejando que o pior acontecesse.
            São os seres humanos, com os seus sentimentos e sensibilidades...
            Passado o impacto, comecei a relembrar reflexão que já havia feito sobre os comportamentos da violência e da brandura, sob a inspiração do Mestre Jesus.
            Soaram na acústica de minha alma as suas palavras doces, firmes e inesquecíveis:
             “ Bem aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra.”. (Novo Testamento -  Mateus, capítulo 5, versículo 4)
            A  humanidade está precisando de brandura e misericórdia no relacionamento individual e coletivo.
            Essas reflexões me remeteram, novamente, a uma parábola que havia  lido.
            “ Num pequeno pais da Europa, havia um rei que vivia bastante preocupado com a maneira como governar seu povo. Certo dia , pediu orientação a um conselheiro:
            - Caro conselheiro, devo ser severo os meus súditos para que mantenham sempre o respeito e nunca pensem em se rebelar contra mim, ou devo ser amoroso fazendo-lhes as vontades para que me tenham grande carinho? Ajude-me.
            O conselheiro meditou por alguns instantes e logo se pronunciou:
            - Qual o objeto que vossa majestade mais aprecia?
            Mesmo sem entender direito aonde o conselheiro queria chegar, o rei respondeu:
            - O que mais amo são dois vasos chineses muito valiosos.
            - Traga-os aqui, então.
            Ainda sem compreender, o rei atendeu ao pedido e mandou trazer os dois vasos.       Vendo-os, o conselheiro disse:
            - Tragam um pouco de água fervendo e um pouco de água gelada. Coloquem a água gelada em um vaso e a fervendo em outro.
            Prevendo o que iria acontecer, o rei interveio rapidamente:
            - Louco! Não percebe que os vasos vão se partir?
            - Exatamente, - respondeu o conselheiro.
            - Assim será com o reino.
            Se agir com severidade excessiva ou com grande benevolência, não será um bom rei. Vossa majestade precisa saber dosar os dois, para exercer sempre uma autoridade saudável.” (1)
            A parábola ilustra, com propriedade, a necessidade do equilíbrio entre a severidade e a brandura.
            Qualquer uma em demasia, como a água gelada ou a água fervente, racha o precioso vaso da convivência no pequeno grupo ou na sociedade.
            Muitos conflitos familiares, que solapam as bases da família têm a sua origem na severidade excessiva ou na brandura irresponsável e indisciplinada.
            Allan Kardec, analisando a aludida afirmação de Jesus, pondera: “ Por esta máxima, Jesus faz da brandura, da moderação, da mansuetude, da afabilidade e da paciência, uma lei. Condena, por conseguinte, a violência, a cólera e até toda expressão descortês de que alguém possa usar para com seus semelhantes.” (2)
            Vamos responder, para nós mesmos, ou com outras pessoas, se lermos este texto junto com elas?
            - Como deverei dosar a minha severidade e a minha brandura?
            - Estou trincando os vasos da convivência com a água gelada ou com a água fervente?
            - Como eu gostaria de ser tratado (a) no lar? Como estou tratando meus familiares?
            - Como eu gostaria de ser tratado (a) no ambiente de trabalho? Como estou tratando meus colegas de trabalho?
            - O que eu posso fazer de concreto para mudar minhas atitudes agressivas e agir com equilíbrio?
            No confronto entre os dois moços, que presenciei, felizmente um deles teve a necessária calma para não “quebrar o vaso”, com resultados imprevisíveis.

Bibliografia:
(1)   Parábolas de Liderança, Darlei Zanon, págs. 39 e 40, Ed.Paulus.
            (2) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, Ed. FEB, págs. 161 e 162.