sexta-feira, 27 de julho de 2012

EU CONHECI EUCLIDES



            EU CONHECI  EUCLIDES

Há, mais ou menos, cinquenta anos conheci Euclides.
            Era uma pessoa muito interessante.
            Parecia um “sir”  inglês: o porte, a postura, as maneiras; tudo indicava uma pessoa acostumada ao comando e a viver com determinação.
            Conhecia muita coisa. Era um autodidata. Falava com desenvoltura e o tom de voz sempre firme, porém educado.
            Poder-se-ia se pensar em alguém acostumado a viagens para a Europa ou outro centro de cultura.
            O palco de sua vida, porém, foi outro: nascera e durante muitos anos vivera na zona rural.
            Com a morte prematura dos pais tivera que assumir a responsabilidade pelos irmãos menores.
            Labutara muitos anos nas lides da agricultura e  da pecuária.
            Nos breves momentos de folga, debruçava-se sobre os livros. Aqueles que lhe caíssem nas mãos,entre eles os espíritas, pois nem sempre tinha dinheiro para comprá-los.
            Dizia-me: quando precisou vir para a cidade, com a família, esforçou-se para estudar, naturalmente, à noite, porém as condições financeiras não lhe permitiram.
            Relatou, depois, vários episódios de sua vida, quando pensava na possibilidade de melhoria financeira, algo acontecia e derruía todos os seus planos e sonhos.
            Falência de negócios, não por má administração, traição de sócios, mudanças no cenário econômico em que se achava e muitos outros.
            Na área sentimental, o fracasso era o mesmo.
            Quando pensava e sentia ter encontrado a sua “alma gêmea” algo ocorria e o romance naufragava...
            Havia situações inusitadas em sua vida, que não eram raras.
            Narrou-me: certa vez estava em uma festa junina ouvindo e apreciando cantores sertanejos que se apresentavam.
            Repentinamente recebeu um soco no rosto que o derrubou no chão. Levantou-se assustado e pronto a se defender e revidar, quando o agressor dirigiu-se a ele:
            - Desculpe-me!, desculpe-me! Perdão!
            Olhando-o de perfil achei que era uma pessoa que vem perseguindo minha noiva e pensei em dar-lhe uma lição.
            Euclides levantou-se rubro de raiva e vergonha, com os curiosos em volta aguardando o desfecho. Alguns “torcendo” para que a briga continuasse.
            O agressor estendeu-lhe a mão e mais uma vez falou:
            - Me perdoe!
            Ele estendeu a mão, apertando a do agressor, no sinal de perdão.
            - Tantos foram os problemas que enfrentei, confidenciou, que pensei até em me suicidar.
            Como conseguiu superar isso? Indaguei.
            - Compreendendo a lei da reencarnação e lendo  O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, especialmente o capítulo V : Bem Aventurados os Aflitos, tópico: Causas Anteriores das Aflições.
            Nessa época, Euclides coordenava trabalho de assistência social atendendo cem jovens carentes, órfãos verdadeiramente ou órfãos de pais “ vivos”.
            Pensativamente, afirmou a frase evangélica: “Só o Amor cobre a multidão de pecados”!

domingo, 22 de julho de 2012

CAUSAS DO SOFRIMENTO




CAUSAS DO SOFRIMENTO

            Bem aventurados os que choram, pois que serão consolados. Jesus” (Mateus, cap. 5, item 4).
            Analisada essa declaração de Jesus sob o ponto de vista apenas da vida material ela se mostra contraditória.
            Como pode uma pessoa ser bem aventurada se ela está chorando?
            Nem sempre aqueles que choram conseguem ser consolados durante toda a sua existência física.
            Inegavelmente Jesus fazia essa afirmação ponderando a vida em sua extensão maior aludindo à continuidade da vida além da morte. A vida em sua  dimensão espiritual.
            Mesmo nessa ordem de considerações não é apenas porque a pessoa chora é que ela adquire direito ao consolo compensatório.
            A Doutrina Espírita esclarece que a dor física ou moral, quase sempre, é um alerta disparado para dizer que algo não está indo bem em nossas vidas.
            A dor física é importantíssima na preservação da própria vida. Ela está informando que algo não está bem em nosso organismo e é necessário restabelecer a harmonia das células e dos órgãos.
            Mesmo quando sofremos traumatismos externos pela ocorrência de acidentes que atingem o corpo físico, a dor é o sinal de que as estruturas atingidas deverão ser imediatamente atendidas para evitar mal maior.
            De modo semelhante, a dor moral indica que algo em nossa vida de relação com o outro, com o mundo não vai bem.
            Essa dor pode originar-se nos conflitos domésticos: no relacionamento entre o casal, dos pais para com os filhos, dos filhos para com os pais, conflitos entre irmãos.
            Também tal dor pode ter sua origem nos contatos sociais fora do lar: no ambiente de trabalho, nas atividades empresarias, nas atividades sociais, nas práticas esportivas e até mesmo no ambiente religioso.
            Enfim, o comportamento não está adequado e assertivo.
            Torna-se necessário, então, ter a inteligência emocional para saber enfrentar os conflitos geradores dessas dores encontrando a possível harmonização.
            Analisando essas causas assim se manifesta Allan Kardec (1):
            “ Remontando-se à origem dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos são consequência natural do caráter e do proceder dos que os suportam.
            Quantos homens caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição!
            Quantos se arruínam por falta de ordem, de perseverança, pelo mau proceder, ou por não terem sabido limitar seus desejos!
            Quantas uniões desgraçadas, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de vaidade e nas quais o coração não tomou partem alguma!
            Quantas dissensões e funestas disputas se teriam evitado com um pouco de moderação e menos suscetibilidade!
            Quantas doenças e enfermidade decorrem da intemperança e dos excessos de todo gênero!
            Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não lhes combateram desde o princípio as más tendências!”
            Mais adiante ele conclui: ”A quem, então, há de o homem responsabilizar por todas essas aflições, senão a si mesmo?  O homem, pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios; mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, menos humilhante para a sua vaidade acusar a sorte, a Providência, a má fortuna, a má estrela, ao passo que a má estrela é apenas a sua incúria.
            Os males dessa natureza fornecem, indubitavelmente, um notável contingente ao cômputo das vicissitudes da vida. O homem as evitará quando trabalhar por ser melhorar moralmente, tanto quanto intelectualmente.”
            Portanto, antes de aguardar o consolo é melhor ser previdente e usar o bom senso!
            Que se aguarde o consolo, como disse Jesus, relativamente à dores para as quais não concorremos e não pudemos evitar o seu aparecimento.
Bibliografia:
             (1) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, Ed. FEB, cap. V, itens 1 e 4.