Estacionei
o carro, desci e ia entrando no supermercado.
Pequeno
alvoroço. Dois homens saiam trocando frases duras e em voz alta.
Percebia-se
que estavam sob intensa emoção e despidos da racionalidade.
Tudo
indicava que haveria desforço físico.
Felizmente,
aquele que ainda estava com um pouco de bom senso foi andando à frente e o
episódio não teve mais graves consequências, pelo menos no momento.
Ao passar
pelas pessoas observava as fisionomias de espanto... de medo... e outros
desejando que o pior acontecesse.
São os
seres humanos, com os seus sentimentos e sensibilidades...
Passado o
impacto, comecei a relembrar reflexão que já havia feito sobre os
comportamentos da violência e da brandura, sob a inspiração do Mestre Jesus.
Soaram na
acústica de minha alma as suas palavras doces, firmes e inesquecíveis:
“ Bem
aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra.”. (Novo Testamento -
Mateus, capítulo 5, versículo 4)
A humanidade está precisando de brandura e
misericórdia no relacionamento individual e coletivo.
Essas
reflexões me remeteram, novamente, a uma parábola que havia lido.
“ Num
pequeno pais da Europa, havia um rei que vivia bastante preocupado com a
maneira como governar seu povo. Certo dia , pediu orientação a um conselheiro:
- Caro
conselheiro, devo ser severo os meus súditos para que mantenham sempre o
respeito e nunca pensem em se rebelar contra mim, ou devo ser amoroso
fazendo-lhes as vontades para que me tenham grande carinho? Ajude-me.
O
conselheiro meditou por alguns instantes e logo se pronunciou:
- Qual o
objeto que vossa majestade mais aprecia?
Mesmo sem
entender direito aonde o conselheiro queria chegar, o rei respondeu:
- O que
mais amo são dois vasos chineses muito valiosos.
- Traga-os
aqui, então.
Ainda sem
compreender, o rei atendeu ao pedido e mandou trazer os dois vasos. Vendo-os, o conselheiro disse:
- Tragam um
pouco de água fervendo e um pouco de água gelada. Coloquem a água gelada em um
vaso e a fervendo em outro.
Prevendo o
que iria acontecer, o rei interveio rapidamente:
- Louco!
Não percebe que os vasos vão se partir?
-
Exatamente, - respondeu o conselheiro.
- Assim
será com o reino.
Se agir com
severidade excessiva ou com grande benevolência, não será um bom rei. Vossa
majestade precisa saber dosar os dois, para exercer sempre uma autoridade
saudável.” (1)
A parábola
ilustra, com propriedade, a necessidade do equilíbrio entre a severidade e a
brandura.
Qualquer
uma em demasia, como a água gelada ou a água fervente, racha o precioso vaso da
convivência no pequeno grupo ou na sociedade.
Muitos
conflitos familiares, que solapam as bases da família têm a sua origem na
severidade excessiva ou na brandura irresponsável e indisciplinada.
Allan
Kardec, analisando a aludida afirmação de Jesus, pondera: “ Por esta máxima, Jesus faz da brandura, da moderação, da
mansuetude, da afabilidade e da paciência, uma lei. Condena, por conseguinte, a
violência, a cólera e até toda expressão descortês de que alguém possa usar
para com seus semelhantes.” (2)
Vamos
responder, para nós mesmos, ou com outras pessoas, se lermos este texto junto
com elas?
- Como
deverei dosar a minha severidade e a minha brandura?
- Estou
trincando os vasos da convivência com a água gelada ou com a água fervente?
- Como eu
gostaria de ser tratado (a) no lar? Como estou tratando meus familiares?
- Como eu
gostaria de ser tratado (a) no ambiente de trabalho? Como estou tratando meus
colegas de trabalho?
- O que eu
posso fazer de concreto para mudar minhas atitudes agressivas e agir com
equilíbrio?
No
confronto entre os dois moços, que presenciei, felizmente um deles teve a
necessária calma para não “quebrar o vaso”, com resultados imprevisíveis.
Bibliografia:
(1)
Parábolas de Liderança, Darlei Zanon, págs. 39 e 40,
Ed.Paulus.
(2) O
Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, Ed. FEB, págs. 161 e 162.