É
muito citada a frase: “ Não julgueis para que não sejais julgados” atribuída a
Jesus, conforme o capítulo 7,
versículo 1, quando se quer
alertar alguém sobre a sua impossibilidade de fazer julgamentos sobre os
outros.
A
tradução acima da frase é João Ferreira de Almeida “in” A Bíblia Sagrada, ed. Sociedade Bíblica do
Brasil. Não traz a informação de qual idioma foi traduzida.
Outras
traduções trazem pequenas variações quanto ao uso de vocábulos e estrutura de
redação, todavia, de maneira geral, mantém o mesmo sentido: “ não fazer
julgamento”.
Segundo
os historiadores, Jesus, pela época e local em que viveu, teria falado em
aramaico.
Não
existem manuscritos dos evangelhos e dos livros bíblicos no idioma aramaico.
Os
exemplares mais antigos que chegaram até os nossos tempos estão escritos em
grego antigo, que depois foram traduzidos para o idioma latim, língua dos
romanos, e desta para os demais idiomas.
Então
é importante que procuremos entender com a devida lógica os ensinamentos do
Mestre Jesus, que, muitas vezes, apresentam profundidade de idéias muito além
da aparência.
Nesse
ensinamento poderemos considerar que Jesus não pretendia condenar o julgamento
como processo racional de análise e compreensão sobre determinado fato ou
pessoa, mas o que deve vir na fase seguinte, após o julgamento, que é a condenação,
se houver erro.
Na
verdade, a tendência das pessoas é condenar antes de julgar, se algo não lhe
agrada, muitas vezes não considerando se está certa ou errada.
Então
muitos equívocos surgem e muitos males têm a sua dramática origem.
Conta-se
que um casal, recém casado, mudou para
um bairro muito tranqüilo.
Na
primeira manhã que passavam na casa, enquanto tomavam café, a mulher reparou em
uma vizinha que pendurava lençóis no varal e comentou com o marido:
-
Que lençóis sujos ela está pendurando no varal! Está precisando de um sabão
novo. Se eu tivesse intimidade, perguntaria se ela quer que a ensine a lavar as
roupas!
O
marido observou calado.
Três
dias depois, também durante o café da manhã, a vizinha pendurava lençóis no
varal, e novamente, a mulher comentou com o marido:
-
Nossa vizinha continua pendurando os lençóis sujos! Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as
roupas!
E
assim, a cada três dias, a mulher
repetia seu discurso, enquanto a vizinha pendurava suas roupas no varal.
Passado
um mês a mulher se surpreendeu ao ver os lençóis muitos brancos sendo estendidos,
e empolgada foi dizer ao marido:
-
Veja, ela aprendeu a lavar as roupas, será que a outra vizinha lhe deu sabão?
Porque eu não fiz nada.
O
marido calmamente respondeu:
-
Não, hoje eu levantei mais cedo e lavei a vidraça da janela.
E
assim é. Tudo depende da janela através
da qual observamos os fatos. Antes de criticar, verifique se você fez
alguma coisa para contribuir; verifique seus próprios defeitos e limitações. (
A luz dissipa as trevas, vol. 2, Editora Paulo de Tarso, Goiânia, GO,
2002, pg. 86).
Para
condenar é preciso saber julgar; caso contrário o julgador será condenado.
O julgamento e a
condenação devem sempre visar o Bem.