EU CONHECI EUCLIDES
Há, mais ou menos,
cinquenta anos conheci Euclides.
Era
uma pessoa muito interessante.
Parecia
um “sir” inglês: o porte, a postura, as
maneiras; tudo indicava uma pessoa acostumada ao comando e a viver com
determinação.
Conhecia
muita coisa. Era um autodidata. Falava com desenvoltura e o tom de voz sempre
firme, porém educado.
Poder-se-ia
se pensar em alguém acostumado a viagens para a Europa ou outro centro de
cultura.
O
palco de sua vida, porém, foi outro: nascera e durante muitos anos vivera na
zona rural.
Com
a morte prematura dos pais tivera que assumir a responsabilidade pelos irmãos
menores.
Labutara
muitos anos nas lides da agricultura e
da pecuária.
Nos
breves momentos de folga, debruçava-se sobre os livros. Aqueles que lhe caíssem
nas mãos,entre eles os espíritas, pois nem sempre tinha dinheiro para
comprá-los.
Dizia-me:
quando precisou vir para a cidade, com a família, esforçou-se para estudar,
naturalmente, à noite, porém as condições financeiras não lhe permitiram.
Relatou,
depois, vários episódios de sua vida, quando pensava na possibilidade de
melhoria financeira, algo acontecia e derruía todos os seus planos e sonhos.
Falência
de negócios, não por má administração, traição de sócios, mudanças no cenário
econômico em que se achava e muitos outros.
Na
área sentimental, o fracasso era o mesmo.
Quando
pensava e sentia ter encontrado a sua “alma gêmea” algo ocorria e o romance
naufragava...
Havia
situações inusitadas em sua vida, que não eram raras.
Narrou-me:
certa vez estava em uma festa junina ouvindo e apreciando cantores sertanejos
que se apresentavam.
Repentinamente
recebeu um soco no rosto que o derrubou no chão. Levantou-se assustado e pronto
a se defender e revidar, quando o agressor dirigiu-se a ele:
- Desculpe-me!,
desculpe-me! Perdão!
Olhando-o
de perfil achei que era uma pessoa que vem perseguindo minha noiva e pensei em
dar-lhe uma lição.
Euclides
levantou-se rubro de raiva e vergonha, com os curiosos em volta aguardando o
desfecho. Alguns “torcendo” para que a briga continuasse.
O
agressor estendeu-lhe a mão e mais uma vez falou:
-
Me perdoe!
Ele
estendeu a mão, apertando a do agressor, no sinal de perdão.
- Tantos
foram os problemas que enfrentei, confidenciou, que pensei até em me suicidar.
Como
conseguiu superar isso? Indaguei.
-
Compreendendo a lei da reencarnação e lendo
O Evangelho Segundo o Espiritismo,
de Allan Kardec, especialmente o capítulo V : Bem Aventurados os Aflitos,
tópico: Causas Anteriores das Aflições.
Nessa
época, Euclides coordenava trabalho de assistência social atendendo cem jovens
carentes, órfãos verdadeiramente ou órfãos de pais “ vivos”.
Pensativamente,
afirmou a frase evangélica: “Só o Amor cobre a multidão de pecados”!