“Bem
aventurados os que são misericordiosos, porque obterão misericórdia” Jesus
(Mateus, cap.V, v.7)
Aguardava, no terminal
rodoviário, a autorização para entrar no ônibus, com as outras pessoas que,
também, viajariam.
Subitamente ouvimos gritos e
palavras em altos brados.
Um homem e uma mulher discutiam
acaloradamente.
O conflito se estabelecera, ninguém
parecia ceder. Não comungavam nem a misericórdia, nem a brandura. Sentimentos
necessários naquele momento para que houvesse o entendimento, a compreensão e a
justiça.
Repentinamente, o rapaz falou mais
alto e saiu quase correndo, enquanto a mulher ainda deprecava.
Comecei a refletir sobre algo que já
havia escrito...
A misericórdia é a manifestação da
brandura. Ela consiste no entendimento e na ajuda para a reparação da ofensa
Ao lado dos grandes conflitos e
desentendimentos existem, também, aqueles do dia a dia, que parecem pequenos,
mas acabam desestabilizando emocionalmente a pessoa que recebe a reclamação.
É claro que não gostamos de receber
reclamações, tanto no convívio familiar quanto no ambiente de trabalho ou em
outro lugar qualquer.
A forma de manifestação da
reclamação quase sempre é negativa e, então, nos colocamos na posição mental de
defesa e daí nos sentimos irritados ou desanimados.
Nesse estado de alma reagimos e, quase sempre, produzimos no
“reclamante” mais irritação ou agressividade.
Às vezes, a reclamação é procedente,
nosso entendimento ou comportamento não está correto, noutras, porém, ela é
injusta e improcedente.
Dentro do possível é preciso manter
a calma ou buscá-la para reagir de forma correta, assertiva, o que nos ajudará
e também ao reclamante.
A irritação e a agressividade nada
resolvem, pelo contrário, agravam ainda mais a situação que já era tensa.
Aliás, se nos descontrolamos aquele que reclama vai ter mais motivos para
fundamentar a sua reclamação, carregando-a com mais energia negativa.
Lembremos, a irritação causa
estresse e este gera desequilíbrio
orgânico físico, psicológico e espiritual.
Se não nos acalmarmos, os ânimos se
acirram e podem extrapolar o foco da reclamação e descambar para as ofensas
pessoais, fugindo totalmente do problema inicial.
Quando nos deixamos envolver pela
irritação, pelo exagero em nossa própria defesa, geramos um estresse excessivo,
dificultando o controle emocional e sentimental, tornamo-nos uma “bomba” de
energias mentais desequilibradas e desequilibradoras.
Se o conflito e a reclamação
surgiram no trabalho, sem dúvida, chegando na intimidade do lar nossos
familiares passarão a receber as descargas energéticas da nossa irritação.
A tristeza, o sofrimento, a mágoa serão
distribuídas aos familiares: esposa, filhos, pais e irmãos e que, até há pouco,
nos aguardavam em paz.
Pode, também, acontecer ao
contrário, uma reclamação não bem recebida e administrada no ambiente familiar
poderá se constituir em uma bomba que explodirá em nosso ambiente de trabalho,
produzindo conseqüências muito graves.
O que fazer então?
Quando recebermos uma reclamação,
procuremos respirar fundo algumas vezes e tentemos relaxar...
Deixemos a pessoa falar tudo o que
ela tem a dizer, sem interrompê-la.
Com sinceridade, prestemos atenção
no que ela está dizendo, procurando compreendê-la.
Se não entendermos algo, com
gentileza, peçamos que ela esclareça aquele ponto.
Procuremos estabelecer empatia com o
reclamante. É importante ver o assunto do ponto de vista do outro. Avaliemos o
que ele tem razão e aquilo que ele não tem razão.
Finalmente, procuremos uma solução,
pelo menos ofereçamos aquela que julgarmos a melhor. Se não for a solução que o
reclamante está desejando, tentemos outra ou, até mesmo, algumas alternativas.
Se oferecermos a paz, a paz teremos
de volta.
Se o reclamante não desejá-la, que o problema
permaneça com ele e não conosco.
Entrei no ônibus para a volta ao lar, desembarquei
do “ônibus da reflexão”, mas, ainda, pensei: como disse o Mestre
Jesus:
“ –
Felizes os misericordiosos!”
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